E se o Rio de Janeiro fosse um país?
A pergunta acima vem desde que eu me lembro da minha infância com a curiosidade aguçada pelos mapas, onde havia todos aqueles países de variadas dimensões, linguagens e culturas. Alguns tão pequenos como uma ilha pontilhada no mar, outros tão grandes quanto os continentes.
Apesar de ter abrigado a capital deste ainda Brasil desde seus tempos de colônia de Portugal, o Rio de Janeiro não pode e nem deve ser confundido como se fosse a "cara do Brasil", visto que a mudança da capital para o centro do Brasil era uma ação geopolítica onde a sociedade a antiga capital não representava os interesses da nação brasileira. De fato, a sociedade carioca, em que pese ser tomada pelo patriotismo tupiniquim, não se deu conta de quanto ela é diferenciada do restante do país. E com a fusão do antigo estado da Guanabara, o cenário para uma difusão de seus valores -- que não devem ser confundidos com os valores deturpados de grande difusão -- para o Estado do Rio de Janeiro.
Sabemos bem que países menores tendem a ser mais dinâmicos e de mais facilitada administração. Muitos dos países de território mais ou menos correspondente ao tamanho do nosso estado buscaram formas de compensar a falta de terras disponíveis, isto é se considerarmos os dias atuais. A chave para esse sucesso está na forma com que a política lida com a vida econômica: os acordos comerciais. Imaginem um Rio de Janeiro independente onde a nossa população, que diga-se de passagem, instruída, possa desfrutar das mesmas benesses do livre comércio que os sul-coreanos desfrutam, ou até mesmo da cidade-estado de Cingapura? Prova que não é preciso ser grande para ser rico -- se assim fosse a regra, o Brasil seria um dos mais abastados países do mundo, e não mais existiriam pequenas nações.
Atualmente, o Rio é a segunda maior economia do país, mas cerca de um terço de tudo que aqui se produz (por mais que os escarnecedores do estado digam que não produz nada) vai para Brasília e retorna pouco mais de dez por cento daquilo que de nós foi retirado sob "contribuição" [forçada] federal. Imagine o dia em que todo esse dinheiro ficar por aqui mesmo? São mais de R $ 200 bilhões, de acordo com a referência de 2015; é maior que o PIB de qualquer estado do norte e do nordeste. Ainda pesa o fato deste estado ter que recorrer a empréstimos do governo federal para quitar seus défices, com um dinheiro que já fora retirado daqui, um completo absurdo!
Estamos presos e escravos de uma federação que nos extorque impiedosamente e pratica agiotagem contra nós com o próprio dinheiro que nos foi pilhado; e tudo em nome desta humilhante brasilidade que nos furta a nossa liberdade. Liberdade está que seria a chave do nosso sucesso, caso tivéssemos a autonomia necessária para fazermos os acordos comerciais com quem nos aprouver. Temos um mar extenso e generoso à nossa disposição, que é o atributo necessário para se firmarem as rotas comerciais das navegações que abasteceriam os nossos portos. E isso sem contar o nosso charmoso e variado litoral que encanta os turistas do mundo todo pela sua balneabilidade quase o ano inteiro.
Os interesses dos brasileiros são diferentes dos nossos, e enquanto o povo fluminense não se despertar para isto, ficaremos sujeitos aos interesses de um Brasil interior, tomado pelos ruralistas ou por uma parcela arrogante das cidades interioranas que olham para esta província marítima com desdém pelo suposto prejuízo que damos à imagem desse Brasil "civilizado" que eles dizem construir com o "trabalho". É por isso que a capital do Brasil fora transferida para o interior em 1960, para que essa elite política ascendente fosse servida; em conjunto com o fato de haver na cidade do Rio de Janeiro um perigo para os políticos que a esses novos interesses servissem devido ao fato da proximidade com uma população considerada rebelde. "Quem deve, teme". Ei-la distante capital no meio do cerrado; a Versalhes sulamericana que protege a aristocracia republicana positivista!
A vocação do Rio de Janeiro é comercial ultramarina, e isso desde os tempos de colônia. Não é por acaso que a corte de Lisboa transferiu - se para esta cidade quando Napoleão Bonaparte fazia a Europa sangrar a sua revolução. A realeza de Portugal estava mantendo contato com as suas possessões na África e na Ásia através da cidade do Rio. E a capital do Brasil só faria sentido continuar nesta cidade se tivesse alguma empresa além-mar -- uma possessão importante ou, no caso da proposta do Rio independente, acordos comerciais com os diversos países. É esse comércio que trouxe prosperidade à muitas nações que hoje nos serve de modelo, muitas delas centenas de vezes menores que esse país ineficiente e agigantado a qual fazemos parte. Os empregos aumentam, os salários, as inovações... contanto que tenhamos uma classe política disciplina e em constante vigilância do povo [será assunto para a próxima postagem]. Brasília só nos olha como mais uma de suas colônias, contando com a eterna complacência do povo fluminense, dominados por vias diretas e indiretas, que se manifesta sutilmente a cada vez que se toca o hino nacional para abrir uma partida de uma seleção decadente do "gigante" que desperta, mas volta a dormir "deitado eternamente em berço esplêndido". Fluminenses, despertai-vos para a sua maior oportunidade! Que nos ponhamos de frente para o mar, e de costas para o Brasil!
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